sábado, 15 de abril de 2017

CRITICA RETÓRICA (OU ANÁLISE RETÓRICA) NA EXEGESE BÍBLICA CONTEMPORÂNEA APLICADA EM MT 2.23

Apesar de não ser recente, a crítica retórica na exegese bíblica tem crescido muito nos últimos anos. A análise retórica parte da ideia que o texto, ou blocos textuais, tem a finalidade de convencer acerca de algo. No Novo testamento são bem óbvios os blocos textuais que procuram convencer o interlocutor acerca da ressurreição de Jesus, sobre uma vida de devoção e santidade, acerca da volta de Cristo etc. Assim o método de análise retórica é uma ferramenta contemporânea bastante útil para a exegese bíblica quando usada por um crente realmente devoto a Jesus.  

EXEMPLO PRÁTICO.

Para exemplificar o uso da crítica retórica vamos tomar como um texto base Mateus 2.23:

E chegou, e habitou numa cidade chamada Nazaré, para que se cumprisse o que fora dito pelos profetas: Ele será chamado Nazareno.

Um texto muito polêmico, visto que não há referências dessa profecia no Antigo testamento. Nenhum profeta do AT profere tal profecia. Esse verso tem sido uma pedra no sapato dos que fazem uma exegese fundamentalista e um prato cheio para aqueles que descreem na autoridade da bíblia sagrada e produzem uma exegese Liberal.  Assim vamos tentar interpretar esse texto do ponto de vista da Analise retórica.
Primeiro, esse versículo por natureza é retorico, visto que tem como função chave corroborar o discurso messiânico defendido pelo evangelho desde do primeiro verso. Assim a análise retórica é o melhor método para se entender esse versículo.
Segundo, há um discurso messiânico, um discurso ideológico superior, que condiciona a escrita do texto. Esse discurso messiânico é independente do autor individual, Mateus como é considerado tradicionalmente. Há um discurso que emana da comunidade, para qual o autor escreve, ou seja, forças ideológicas e discursivas que direcionam a escrita do texto, e que saem do interlocutor para o locutor. Numa ordem inversa ao convencionado na exegese tradicional. O texto tem por função corroborar e refletir o discurso comunitário. Perceba a reprodução desse discurso na construção da Genealogia que Mostra Jesus como filho de Davi e filho de Abraão, Mt 1.1. Perceba também a escalada das citações do AT em Mt 1.22,23 (Is 7.14), Mt 2.5,6 (Mq 5.2), Mt 2.15 (Os 11.1), Mt 2.17,18 (Jr 31.15) e por fim Mt 2.23 (sem referência no AT). Assim o verso está sobre pressão discursiva comunitária e tende a devolver a comunidade seu discurso. Assim o discurso comunitário acerca da pessoa de Jesus vai condicionar toda a retórica inicial do evangelho segundo Mateus. Também é Natural que existam crenças comunitárias e extra Antigo testamento acerca de Jesus. Muito provavelmente é do meio dessas crenças, valores, paráfrases e discursos comunitários, extra testamentário e que leem o Antigo testamento, que surge a figura do Jesus Nazareno, que tem cada detalhe de sua vida planejado pela providencia divina, desde o nascimento até a morte tudo direcionado por Deus (Mt 8.17; Mt 12.17; Mt 12.39; Mt 13.14; Mt 15.7; Mt 13.35; Mt 21.4; Mt 24.15; Mt 26.56; Mt 27.9; Mt 27.35;). Assim Por associação a muitas outras profecias, que realmente emanam do antigo testamento, acerca da figura do messias, a comunidade entende que o ser Nazareno é uma profecia do AT. Isso com certeza pode ter sido fortalecido pelas tradições Orais acerca das narrativas da vida de Jesus.
Terceiro, o Escritor do Evangelho, como parte dessa comunidade e compartilhando desse discurso o reproduz em seu texto. Dessa forma, o que aparentemente está errado é na verdade retórico, uma paráfrase comunitária que emana de um discurso superior, que em essência encontra maior parte das referências da messianidade de Jesus diretamente do AT. O verso Tem a função de convencer, pelo que já tinha sido convencionado pela comunidade (Se bem que “convencer” é equivalente a “reproduzir”), acerca do poder providencial de Deus em todo os aspectos da vida de Jesus. Esse discurso acerca da providência divina encontra seu clímax na morte de Jesus pela humanidade, arquitetada por Deus pai, no final do evangelhos de Mateus.
Assim Mt 2.23 é uma paráfrase comunitária (provavelmente de Mq 5.2 + Is 9.2, claramente citado em Mt 4.16) que tem sua leitura condicionada pelo discurso comunitário da messianidade e o discurso do controle providencial divino. Mateus retorna para sua comunidade essa paráfrase, que era propriedade da comunitária, outrora sob a forma oral, agora sob a forma textual, afim de fortalecer o sua obra escrita. Dessa maneira, através da análise retórica, podemos concluir que Mateus escreve para a comunidade a partir da própria comunidade. É nesse espírito que surge o “aparente erro”, que não é erro é uma paráfrase comunitária com fins retórico e que só tem valor retórico para a comunidade interlocutora, daí nós, que não somos essa comunidade interlocutora primária, não compreendermos o verso e acharmos um erro.



quinta-feira, 4 de julho de 2013

Quem é a figura descrita em Ezequiel 28? O rei sacerdote de tiro? Um anjo caído? (Uma analise de Ezequiel 28 através do contexto imediato e histórico.)

Quem é a figura descrita em Ezequiel 28? O rei sacerdote de tiro? Um anjo caído? (Uma analise de Ezequiel 28 através do contexto imediato e histórico)

             O propósito deste texto é discutir quem realmente é a figura descrita em Ezequiel 28. A ideia popular é que na verdade esse texto faz uma descrição de lúcifer, satanás, o anjo que queria assumir o lugar Deus e torna-se semelhante a ele.  Na verdade essa é uma ideia institucional, ou seja, boa parte das igrejas evangélicas, principalmente as da linha pentecostal, acredita de forma inquestionável que esse texto fala de lúcifer. Porém uma análise no contexto imediato do texto de Ezequiel, principalmente nos três capítulos que antecedem o 28 e os dois capítulos posteriores, revela outra ideia. Sobre esse tipo de interpretação que as linhas teológicas impõem adverte Henry A. Virkler em seu famoso livro Hermenêutica avançada:

"Há um grande perigo, uma vez que tenhamos aderido a determinada escola de pensamento, ou adotado certo sistema de teologia, de ler a BÍBLIA à luz dessa escola ou sistema e encontrar seus característicos distintivos naquilo que lemos."

         O que Virkler que dizer é que somos muitas vezes induzidos a ver determinadas coisas e entender de determinada maneira certas passagens bíblicas por que estamos dentro de uma corrente de pensamento. Essa corrente teológica nos influencia de tal forma que inconscientemente entendemos certas passagens bíblicas de uma maneira tendenciosa. Mesmo sendo nossa corrente teológica muito respeitada e altamente difundida. A interpretação  de um texto Bíblico deve ser em função do contexto imediato, dentro da própria bíblia, e no contexto histórico. Devemos ter cuidado com certas interpretações prontas tipo “lata de sardinha” que oferece uma solução rápida e imediata do texto, ainda que seja popular.

         A construção do pensamento daqueles que acreditam que o texto fala de lúcifer é simples. Esse entendimento surge especificamente em três descrições encontradas no texto são elas:

(I) Estiveste no Éden, jardim de Deus...
(II) Tu eras o querubim, ungido para proteger...
(III) no monte santo de Deus estavas...

          O primeiro argumento diz que o rei humano de tiro Jamais esteve no Jardim do éden descrito livro de gênesis e onde o primeiro homem habitou. só um ser poderia ter estado lá: Lúcifer. Na verdade o termo éden ou jardim de Deus não é uma exclusividade desse texto. Dentro do livro de Ezequiel essa expressão aparece outras vezes:

“Formoso o fiz com a multidão dos seus ramos; e todas as árvores do Éden, que estavam no jardim de Deus, tiveram inveja dele”. Ezequiel 31:9

“Ao som da sua queda fiz tremer as nações, quando o fiz descer ao inferno, com os que descem à cova; e todas as árvores do Éden, a flor e o melhor do Líbano, todas as árvores que bebem águas, se consolavam nas partes mais baixas da terra.” Ezequiel 31:16

“Os cedros, no jardim de Deus, não o podiam obscurecer; as faias não igualavam os seus ramos, e os castanheiros não eram como os seus renovos; nenhuma árvore no jardim de Deus se assemelhou a ele na sua formosura.” Ezequiel 31:8

           Os três textos acima fazem referencia a faraó rei do Egito. Se assumirmos que o texto de Ezequiel 28 faz referencia a satanás, baseados simplesmente no termo éden,  devemos fazer o mesmo aqui. Porém esse texto, de Ezequiel 31, claramente faz referencia a Faraó. Na verdade a expressão éden é usada aqui como um jardim de nações. Éden aqui dever ser entendido na tradução literal de seu significado: Delicia ou prazer. Jardim do éden é equivalente a Jardim de delicia ou prazer. Na verdade faz referencia a prosperidade daquelas nações que experimentariam o castigo que Deus traria através da Babilônia. Faça uma leitura completa do capitulo 31 de Ezequiel  e você vai entender o que queremos dizer. Jardim do éden em Ezequiel não tem o mesmo significado de éden em Genesis. Éden em gênesis faz referencia a um jardim literal, em Ezequiel o sentido da palavra é figurado. Em Ezequiel, “o jardim do éden” são todas as nações prosperas que constituíam figuradamente um jardim de árvores de cedro que seriam derrubadas pela irá de Deus. Deus, o supremo soberano de toda terra, tinha o domínio e controle desse jardim de poderosas árvores de cedro, ou seja, as nações pagãs e desviadas de sua vontade. O reino de Tiro era uma dessas “arvores nações” do jardim de Deus, ou seja, sob o controle de Deus. Logo o rei humano de tiro estava sim no éden, o jardim de Deus, Ou jardim de nações sob o controle soberano de Deus.

          Quanto as expressões “querubim ungido” e  “monte santo de Deus”, observe o argumento: Era muito comum entre os cananeus, povos que rodeavam o Israel bíblico a figura do “rei sacerdote”. Melquisedeque  contemporâneo de Abraão, séculos antes do fatos citados em Ezequiel, é um exemplo claro (Gn 14.18):

“...E Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho; e era este sacerdote do Deus Altíssimo...”

        Os reis pagãos eram considerados figuras representativas diretas dos seus deuses. Sendo em muitos casos considerados deuses também. Etbaal, rei sidonico que faz aliança com acabe, entregando sua filha Jezabel como símbolo da aliança, é um exemplo claro de um rei sacerdote. Assim Flávio Josefo  descreve em seu livro a historia dos hebreus.

 “. Acabe, rei de Israel, estabeleceu residência em Samaria e reinou vinte e dois anos. Em vez de mudar as abomináveis instituições feitas pelos reis seus predecessores, inventou ainda outras, tanto se comprazia em superá-los na impiedade, particularmente a Jeroboão, porque adorou, como ele, bezerros de ouro que havia mandado fazer e acrescentou outros crimes a esse. Desposou Jezabel, filha de Etbaal, rei dos tírios e dos sidônios, e tornou-se idolatra, adorando falsos deuses. Jamais mulher alguma foi mais ousada e insolente. Tão horrível era a sua impiedade que ela não se envergonhou de edificar um templo a Baal, deus dos tírios, de plantar madeiras de todas as espécies e de estabelecer falsos profetas para prestar um culto sacrílego a essa falsa divindade. Como Acabe sobrepujava a todos os seus predecessores em maldade, ele tinha prazer em manter sempre essa espécie de gente junto de si.”
(a historia dos hebreus, Flavio Joséfo)

            Assim o rei de tiro descrito em Ezequiel segue a longa tradição dos reis pagãos que ao mesmo tempo eram reis e sacerdotes das falsas divindades. No caso do rei de tiro contemporâneo de Ezequiel, ele considerava-se um deus.

            Uma nota da bíblia king James atualizada diz acerca do texto de Ezequiel 28:

“o rei tirano é descrito como um sacerdote majestoso. Plenamente vestido a rigor e adornado a fim de guardar o lugar santo de Deus. As nove pedras estão entre as doze usadas pelo sacerdote levita tradicional (V15, Ex 28.17-20 com Gn 5.2)”
 Bíblia King James atualizada, pág 1542.

Textos antigos descobertos pela a arqueologia no fim do século XIX revelam como era comum essa tradição de reis sacerdotes, que tinham seu poder monárquico apoiado no fator religioso e místico. Um dos texto mais conhecidos é a inscrição real de Lugalzagesi ( 2296 - 2271 A.C.). Veja o que diz essa inscrição:

Lugalzaggesi: rei de UruK.
Rei do país,
Sacerdote purificador do deus An (deus de Uruk),
Profeta de Nidaba (deusa pessoal do rei),
Bem visto por An (deus de Uruk),
Grande governante de Enlil (deus patrono da cidade de Eridu),
Dotado de grande inteligência por Enki (deus patrono de Eridu),
Eleito de Utu (deus solar da cidade de Larsa),
Grande ministro de sin (deusa lunar de Larsa),
General supremo de Utu (deus solar),
Cuidador Inanna (deusa da justiça acadiana)
(...)
Do amanhecer ao poente, Enlil eliminou o medo.
Todos os países viverão em paz e se alegrarão.
Todas as dinastias de Sumer e os governantes de todos os países se prostrarão em Uruk ante a sua suprema lei.
(Inscrição real de Lugalzaggesi)

(História antigua del próximo oriente: mesopotamya e Egipto, pág. 136, Joaquin sanmártin, editora akal)

Sobre o rei Lugalzaggesi veja https://pt.wikipedia.org/wiki/Lugalzagesi


Observe os títulos atribuídos ao rei Lugalzaggesi e compare com os títulos atribuídos ao rei de Tiro e perceba as semelhanças. 

               Assim podemos entender claramente as expressões “querubim escolhido” e “monte santo de Deus”. Como caricaturas de um sacerdote levita e de Sião o verdadeiro monte santo. Apesar de suas vestes muito elegantes, não passava de um falso sacerdote. Assim ironicamente ele é considerado “como estando no monte santo de Deus” e “um querubim protetor” (referencia as imagens dos dois querubins que estavam diante da arca de Deus).

             Há ainda um argumento que faz uma dicotomia entre o inicio do capitulo 28 que se refere ao “príncipe de tiro” e a partir do versículo 12 a lamentação agora é dirigida ao “rei de tiro”. Dizem que “o príncipe de tiro” é o rei humano e o “rei de tiro” é o rei espiritual, satanás. Porém percebemos que a primeira lamentação faz referencia ao rei humano de tiro em seu aspecto de monarca e a segunda lamentação faz referencia ao rei humano de tiro em  seu aspecto de sacerdote.

Em seu Manual popular de duvidas, enigmas e contradições da bíblia escreve Norman Geisler:

         “Os eruditos evangélicos têm sustentado diferentes posições com relação à identidade do príncipe de Tiro. Alguns consideram que a linguagem do capítulo 28 é altamente poética, com figuras de expressão que têm o propósito de enfatizar a arrogância do príncipe de Tiro. Esses comentaristas entendem que se trata de um príncipe humano, embora haja divergências quanto a quem seja exatamente tal pessoa. Alguns o identificam como tendo sido Ethbaal III, que reinou de cerca de 591 a 572 a.C. Outros o identificam como Ithobal II, que pode ter sido a mesma pessoa, com um nome diferente.
Alguns comentaristas propõem que a linguagem empregada não pode ser aplicada a nenhuma pessoa especificamente, mas que há uma personificação da própria cidade. O "rei" serviria assim como um símbolo do governo e do povo como um todo.
            Outros comentaristas argumentam que os versículos de 1 a 10 referem-se a um príncipe humano, mas que os versículos de 11 a 19 referem-se a Satanás. Os que defendem esta posição apontam para a mudança de referência de "príncipe (nagid) de Tiro", do versículo 2, para "rei de Tiro" (nielek), no versículo 12. Esta mudança, de príncipe para rei, considerada em conjunto com certas afirmações, tais como "estavas no Éden" (v. 13), "tu eras querubim da guarda ungido" (v.14), e "perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado" (v. 15), podem indicar que esta seção seja sobre Satanás. Não sendo assim, outros entendem tais frases como simples referências hiperbólicas (a expressão de um exagero como figura para enfatizar algo) aplicáveis ao príncipe humano e ao rei.
Todos os comentaristas conservadores concordam, entretanto, que o capítulo 28 é uma profecia contra a cidade de Tiro e seu governante, não importando quem tenha sido ele. Este exaltara-se acima de Deus e merecia o juízo que o Senhor lhe traria. Embora a identidade desse príncipe e rei seja uma questão controvertida, a aplicação desta passagem estende-se a todos os que se exaltam em orgulho e arrogância contra Deus, não importando se são reis, demônios ou pessoas comuns. E, é claro, Satanás é o caso de maior destaque entre todas essas orgulhosas criaturas.”
(Manual popular de duvidas enigmas e contradições da bíblia, Norman Geisler e Thomas Howe, editora mundo cristão, pág 295 e 296)

             Concordamos com a conclusão de Geisler que o quê deve ser observado nesse texto, acima de qualquer discursão, é o pecado do orgulho e da prepotencia que são condenados pelo senhor nesse texto. Porém não aceitamos a ideia pré-fabricada de que esse texto se refere ao rei espiritual de tiro, Satanás, por apenas conter, como diz Geisler, expressões hiperbólicas. Na verdade figuras de linguagem acerca do rei humano, não espiritual, mas literal de tiro, que  era orgulhoso,  prepotente e exibido, e a partir de sua arrogância pode ser comparado com satanás, por compartilhar do mesmo pensamento soberbo. Assim o texto faz referencia direta ao rei sacerdote de tiro e por extensão da ideia, por via de comparação, a satanás.

          

sábado, 7 de abril de 2012

A páscoa não é uma instituição bíblica para nós cristãos.

        Por bíblico entenda de forma simplista aquilo que vem dá bíblia. Por instituição entenda aquilo que foi instituído, convencionado ou ,de forma simples, ordenado. Por instituição bíblica queremos dizer aquilo que Deus convenciona ou ordena através de sua palavra, a bíblia. Sabemos muito bem pelo relato do livro do êxodo que O Senhor instituiu a páscoa para o povo judeu para comemorar a saída deste povo do Egito (êxodo 12 e 13). Porém para nós cristãos, que não somos judeus, Deus não institui esta festa. Em nenhum lugar da bíblia Deus nós manda comemorar a páscoa.

       O apóstolo Paulo escreveu sobre a páscoa para os cristãos, sendo alguns deles judeus e outros não. Revestido essa festa de um novo significado, dando a está cerimônia uma ideia cristocêntrica, mas jamais ordenou  que os crentes celebrassem esse ritual.  Pois é a um ritual que Paulo no final das contas reduz essa celebração.


“Não é boa a vossa jactância. Não sabeis que um pouco de fermento faz levedar toda a massa?
Alimpai-vos, pois, do fermento velho, para que sejais uma nova massa, assim como estais sem fermento. Porque Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós. Por isso façamos a festa, não com o fermento velho, nem com o fermento da maldade e da malícia, mas com os ázimos da sinceridade e da verdade.” (1 Coríntios 5:6-8)

         No texto acima veja que Paulo usa a festa da páscoa como uma ilustração. Para argumentar que o cristão não deve mais viver uma vida de prostituição e não permitir a prostituição no meio da igreja. Leia o contexto de onde esse fragmento foi extraído.

       O novo testamento é claro a páscoa não é uma instituição bíblica valida para o cristão ela deve ser vista de forma figura através do prisma do sacrifício de cristo.

Leia como o apostolo João em seu evangélico identifica a páscoa como sendo uma festa dos judeus.


...E a páscoa, a festa dos judeus, estava próxima. (João 6:4)

...E estava próxima a páscoa dos judeus, e Jesus subiu a Jerusalém. (João 2:13)

...E estava próxima a páscoa dos judeus, e muitos daquela região subiram a Jerusalém antes da páscoa para se purificarem. (João 11:55)


        Alguns comentaristas extremisam e dizem que a pascoa foi substituída pela santa ceia. Não chegamos a esse extremo. Mas é evidente que a pascoa não é uma instituição bíblica válida nos dias de hoje. Porem Jesus instituiu a santa ceia e essa celebração sim deve ser observada pela igreja. Infelizmente muitos cristãos em sua ignorância dão valor a uma celebração já não mais valida, a pascoa, e não dão valor a santa ceia do, festa que próprio Jesus instituiu.

 ...E, tomando o pão, e havendo dado graças, partiu-o, e deu-lho, dizendo: Isto é o meu corpo, que por vós é dado; fazei isto em memória de mim.Lucas 22:19

....E, tendo dado graças, o partiu e disse: Tomai, comei; isto é o meu corpo que é partido por vós; fazei isto em memória de mim. (1 Coríntios 11:24)

       A Páscoa para o cristão não é uma instituição, mas uma representação figurada da morte e ressurreição do senhor Jesus.

A concepção de cristo não foi por geração espontânea, mas um milagre de Deus.

      Muitos pregadores ao comentarem sobre a encarnação de cristo comentam sobre o conceito vindo da biologia sobre a concepção humana. No caso a natureza mostra que para o homem nascer precisa-se de um espermatozoide, da parte masculina, e óvulo, da parte feminina. Os pregadores, em sua maioria descartam o espermatozoide durante a concepção de Jesus. Visto que não houve relação sexual entre Maria e José antes do nascimento do senhor.

       A bíblia afirma que o nascimento do senhor se dá por uma intervenção divina, um milagre. Deus age de forma sobrenatural para trazer o nosso salvador ao mundo. Do ponto de vista bíblico a presença do óvulo feminino é também dispensando. Embora a bíblia não traga nenhuma explicação do ponto de vista cientifico, deixa claro que a mão de Deus interviu milagrosamente e sobrenatural no nascimento do Senhor Jesus.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

O estudo revelação de Deus: uma poderosa chave hermenêutica. (Parte I)

       



          Por chave hermenêutica queremos falar de um pressuposto básico que nos orienta na interpretação da bíblia. Quando afirmamos que a bíblia é a inerrante palavra de Deus, estamos pressupondo que a bíblia é inspirada por Deus e não contem erros. Estamos garantindo sua particularidade e sua autoridade. Quando dizemos que somos da linha pentecostal e acreditamos na atualidade dos dons espirituais, estamos levantando um pressuposto que irá nos dá base para a interpretação de alguns livros da bíblia. Um estudo teórico da auto revelação de Deus deve ser considerado também como um pressuposto que servirá de base para o estudo das sagradas escrituras. Ou pelo menos como um pressuposto do método histórico-gramatical.
        Conhecer que Deus revela-se no contexto finito do homem e conhecer os limites da linguagem humana na tentativa de descrever Deus, que é uma realidade distinta do homem, deve ser tratado como um conceito que “antecede” o estudo da Bíblia. Quando escrevo antecede, Não quero dizer que uma pessoa que não conhece ou despreza esse principio não pode ler a bíblia. Mas quero dizer que deve anteceder como um pressuposto, a nível de uma linha teológica definida, como já citamos a linha pentecostal ou como a linha calvinista.
        Um exemplo simples: Na minha adolescência, lembro de um dos grandes temas-problemas da bíblia que era a passagem em Genesis que dizia que “Deus se arrependeu de ter criado o Homem”(Gênesis 6:6, Êx 32:14 e Números 23:19). Lembro que os adolescentes sempre levantavam essa questão na escola dominical. Será que Deus se arrepende como um ser humano? Mas ele é Deus onisciente e poderoso. Uma explicação que levasse em conta a revelação do Deus infinito no contexto finito dos Homens teria sido uma solução eficaz e suficiente diante das inúmeras e variadas respostas que eram elaboradas na época. Perguntas complicadas, como fato de Os patriarcas serem Polígamos, ou se um cristão pode ou não comer sangue, encontram, no estudo teórico da revelação Deus, uma resposta simples e significativa.  Por que os anjos sendo seres assexuados são descritos na bíblia como sendo homens (Lucas 20:35, Mt. 22:29-30).? Essa pergunta encontra reposta no principio da autoridade. Deus ao se revelar inicialmente ao homem o faz num contexto patriarcal onde o ser do sexo masculino era o representante social de maior valor, eram os homens que lutavam nas guerras, eram líderes de suas famílias, tribos e reinos, enquanto as mulheres tinham pouco ou nenhum valor. Para comunicar a existência de seus ministros como seres dotados de autoridade e poderio, dentro desse contexto patriarcal, Deus os revela no rótulo do gênero que se destacava mais, no caso, Como seres de sexo masculino, Mas através de uma analogia da autoridade,  poderio e culturalmente “superioridade” .
          Qualquer pessoa, nos dias atuais, que usa a bíblia para justificar uma superioridade racial ou de gênero, sem levar em conta esse principio da revelação, é ignorante. Nos dias atuais, o principio da autoridade, em boa parte do mundo, não está rotulado mais numa embalagem de gênero sexual, Mas está no rótulo financeiro.
          Por isso insistimos no “principio revelacional” como uma chave Hermenêutica. Para distinguimos o rótulo, Roupa, ou forma, da revelação do que é revelado, ou seja, a idéia. O que cultural, forma ou roupagem,  do que é universal, o que Deus realmente quer nos revelar acerca de si.

domingo, 22 de janeiro de 2012

A classificação dos atributos de Deus

      Quem já leu alguns livros de teologia Já deve ter se deparado com as variadas nomenclaturas que designam os atributos de Deus. Vamos listar algumas classificações:
                                       
Relativos ou transitivos.
Absolutos ou imanentes.
Naturais ou morais.
Comunicáveis e incomunicáveis.

       Nos livros teologia sistemática do seguimento pentecostal ou da linha reformada é muito comum a classificação dos atributos em “naturais ou morais” e “comunicáveis e incomunicáveis”. Estas classificações levam em conta sempre um princípio básico: A relação de Deus com os homens.

      Como comentamos antes,  Deus se auto-revelou as suas criaturas. Não somente deu-se a conhecer,  mas se relaciona com as suas criaturas. Quando parte-se para a classificação dos atributos leva-se em conta esse relacionamento.

       Quando por exemplo falamos de atributos absolutos estamos falando daqueles atributos que pertencem à essência de Deus considerada em si mesma, ou seja, Levando em conta a natureza de Deus como referência, sem levar em conta as suas criaturas. Quando se fala de atributos relativos, fala-se da essência Deus tomando como referência as qualidades de suas criaturas. 

“A primeira classe inclui atributos como auto-existência, imensidade e eternidade; a outra, atributos como onipresença e onisciência. Esta divisão parece partir do pressuposto de que podemos ter algum conhecimento de Deus como Ele é em si mesmo, inteiramente à parte das relações que mantém com as Suas criaturas. Mas não é assim, e, portanto, falando com propriedade, todas as perfeições de Deus são relativas, indicando o que Ele é em relação ao mundo”
Berkhof , teologia sistemática, A doutrina de Deus , página 54.

         Um grande problema como Berkhof comenta é exatamente que essa classificação pressupõe que é possível ter um conhecimento de Deus fora de relacionamento de Deus com suas criaturas, Deus é tomado à parte, O que é complicado, pois sua auto revelação inclui um mínimo de relação, pelo menos no momento da revelação.

        Outro problema levantando por Berkhof é que algumas dessas classificações levam a um ceticismo, ou seja, exclui completamente a possibilidade do conhecimento de Deus. É caso da classificação em Imanentes, Que pertencem exclusivamente à natureza divina.

“Mas se alguns dos atributos divinos fossem puramente imanentes, todo conhecimento deles estaria excluído, ao que parece. H.B. Smith observa que cada um deles deve ser ao mesmo tempo imanente e transitivo.”
Berkhof , teologia sistemática, A doutrina de Deus , página 54.

           Assim a grande maioria dos livros de teologia sistemática opta pela classificação dos atributos em Naturais ou morais. No caso Berkhof prefere a classificação de comunicáveis e incomunicáveis. Há ainda uma crítica quanto a classificação em atributos morais,pois deixa a idéia de que há atributos em Deus não morais. Mas é que faz exatamente Henry Clarence Thiessen  em sua Palestras em teologia sistemática , muito conhecida comercialmente. Ele classifica os atributos em morais e não-morais.

“Como atributos não morais, queremos dizer aqueles predicados necessários da essência divina que não envolvem qualidades morais. Esses atributos são: Auto-Existência, Eternidade, Imensidão, Onipresença, Onisciência, Onipotência, Imutabilidade e Soberania.”
Palestras em teologia sistemática, Henry Clarence Thiessen.


          A grande questão nessa classificação como já comentamos está No relacionamento de Deus com suas criaturas. Sua revelação pressupõe um mínimo de relacionamento e proposições que trazem conhecimento a cerca de si mesmo. Logo essas classificações devem levar em conta todos esses princípios básicos.  

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Deus é simples?

            Quando partimos para a discussão sobre a simplicidade de Deus, partimos para uma análise do ser de Deus e seus atributos. No tópico “o ser de revelado em seus atributos” Louis Berkhof,em seu famoso livro de teologia sistemática , escreve:

          “Da simplicidade de Deus segue-se que Deus e Seus atributos são um. Não devemos considerar os atributos como outras tantas partes que entram na composição de Deus, pois, ao contrário dos homens, Deus não é composto de diversas partes. Tampouco devemos considerá-los como alguma coisa acrescentada ao Ser de Deus, embora o nome, derivado de ad e tribuere, pareça apontar nessa direção, pois nenhum acréscimo jamais foi feito ao Ser de Deus, que eternamente perfeito.”
                                                                 Berkhof, teologia sistemática, a doutrina de Deus pág44.
     

               Você já deve ter escutado um hino bastante conhecido intitulado “pregadores de Rosas” cujo refrão diz: “pregadores de rosas, preguem os espinhos também. Preguem que Deus é amor mais é justiça também.” Perceba na construção da ideologia regente por trás desse hino um conflito entre a justiça e o amor divino. No caso o conflito não se dá na mente dos pregadores de rosas, mas na divisão da natureza de Deus em justiça e amor.
           
              A discussão sobre a simplicidade de Deus leva-nos a refletir sobre a unidade da natureza Deus. Ouvimos falar muito sobre os atributos de Deus. Mas por trás desses chamados atributos há uma construção teológico-filosófica. Discutir sobre a simplicidade de Deus é abrir o canal para essa construção. Fugir dessa discussão é cair no pensamento popular, como descrito na canção, da concepção de oposição em entre justiça e amor em Deus. Em quanto na verdade amor e justiça em Deus encontram seus verdadeiros significados e são Harmônicos.
Sobre este fato comenta Augustos Hopkins Strong na sua famosa teologia:

       “Eles não são existências separadas. São atributos de Deus. Enquanto nos opomos ao ponto de vista nominalista que sustenta que eles são meros nomes com os quais, por necessidade de nosso pensamento, revestimos a essência divina simples, precisamos igualmente evitar o extremo realista oposto que faz deles partes separadas de um composto. Só podemos conceber os atributos como pertencendo a uma essência subjacentes que fornece sua base de unidade. Se apresentarmos Deus como um composto de atributos, pomos em perigo a unidade da divindade.”
STRONG, TEOLOGIA SISTEMÁTICA, ATRIBUTOS DE DEUS PAG 366.


              Deus é simples por que sua natureza é uma. Não há divisões em sua essência.  Quando falamos de atributos devemos expurgar e definir bem esse conceito quando o associamos ao ser de Deus. Porém devemos ter cuidado quando entramos na discussão sobre a simplicidade de Deus. Sobre isto escreve Strong:

             “A noção nominalista de que Deus é um ser de simplicidade absoluta e de que em sua natureza não há nenhuma distinção de qualidades ou poderes tende diretamente para o panteísmo; nega toda a realidade das perfeições divinas; ou, se estas, em qualquer sentido, ainda existem, exclui todo o conhecimento delas por parte dos seres finitos.”
Strong, teologia sistemática, Atributos de Deus, pág 364,

            Como Strong coloca, há sim distinções de qualidades na natureza divina, não distinção de natureza. Caso essas distinções não sejam feitas cairemos em um panteísmo. A essas distinções de qualidade damos o nome de atributos.

             O grande problema no meio evangélico contemporâneo está no fato de desconhecer Deus como simples, de natureza única, e os atributos como onisciência, onipresença, onipotência e etc.. Não são divisões da natureza divina, mas são distinções de qualidades nessa essência ou natureza.   Devemos dar maior valor à discussão a simplicidade da natureza divina para não reproduzir as velhas idéias de um conflito na natureza de Deus e observar que esse conflito só existe entre a nossa ignorância e a nossa disposição para a discussão teológica.